Friday, November 16, 2007

Prólogo de um sonho

Uma casa, nove mulheres. Problemáticas, desajeitadas, infelizes, vestidas de igual. Um homem, a mesma casa. Uma casa robusta, pormenorizada, com uma escadaria que vem da porta da entrada de encontro a uma grande sala rodeada por um sofá. Quadros antigos forram as paredes, e desencontrado com uma decoração clássica está um painel de luzes néon com as palavras “s’être grand dans un état petit”.
A socorro das nove mulheres, para retirar o desespero dos seres, o homem vai chamando um amigo de cada vez, cada qual com o seu dom especial, todos diferentes, sem qualquer incentivo a actividades promíscuas, aqui as intenções não passam por esse caminho. E vão-se formando os casais, e as mulheres vão mudando, a roupa diferencia, a infelicidade desvanece, uma personalidade consolida-se, os problemas transformam-se.
Faltam três metamorfoses, e chega o contador da história que se vai seguir.
Depois do matemático, do cozinheiro, do realizador de cinema, do escritor, do filósofo, e do jardineiro, chega o músico e interrompe o desenvolver desta modificação. Uma estrutura baixa, cabelos e olhos claros. De um carácter tímido, a sua presença é subtil e quase imperceptível. Espera por ele uma bela viola que se deixa repousar no longo sofá. Ele vai cercando-a com o olhar mas ainda não se aproximou o suficiente para lhe tocar. É uma bela viola.
As conversas que ecoam a sala não se apercebem da presença do músico junto da viola. Pega-a com suavidade e senta-a no seu colo. Envolve-a com as suas mãos e deixa soar as notas musicais. A princípio com vergonha, mas à medida que criam uma relação a música envolve as paredes da casa e cobre as palavras faladas, tornando o silêncio das bocas em ouvidos atentos e deliciados. A música vai ondulando pela casa, e quando ele se apercebe que o mais ínfimo grão de pó se foca na sua incontestável figura, soltando as cordas vocais dá a conhecer a sua história. “nous ne pouvons pás prevenir que nous ne pouvons pás prédire” são misticamente as palavras que se iluminam agora no painel de néon, e as primeiras palavras que soam da sua boca. O seu sotaque é bem perceptível, de um leste europeu. O seu nome, Milos.

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