Thursday, October 11, 2007

Verdades de Mim

Dói. Dói muito, e dói mesmo. Achava que tinha tudo controlado, esqueci-me da dor. Essa dor. Menosprezei essa dor que me mata lenta e descaradamente. Que me vai consumindo a sanidade, que me faz rir quando quero chorar, parar quando quero andar, calar quando quero berrar, morrer quando quero viver! Não estou louca porque sei que estou louca. A loucura já me invadiu, já me derrubou, e no chão rastejo calmamente. Deixo a poeira dos paços de quem passa por mim cobrir-me, vai cobrindo o meu corpo. Essa gente já me vê mal, se a poeira me tapar deixaram de ver por completo. Assim não terei de explicar o porquê. Ninguém fala com quem não está ali, só os loucos. E é apenas com eles que quero falar, serão os únicos que me conseguiram ver. Na loucura, a minha loucura. É descontrolada essa mão que me esmaga! E sou eu que a deixo esmagar, desisti. A força pela qual me conheciam foi deliberadamente guardada, escondida. E o esquecimento leva a que a procura por ela desvaneça. Fui condenada, morta, mas permaneço cobardemente aqui. Rasguei das minhas costas as asas que me faziam ir longe, destruí o brilho dos meus olhos, arruinei o belo sorriso da minha boca, e tudo por mãos alheias às minhas. Nem um raio de luz, a escuridão cega-me. E a única forma de estar é atirar-me contra às paredes. E nem assim sinto o meu corpo. Horas de solidão são a comédia dos meus pensamentos mórbidos, rompe-se a moribunda gargalhada destes pulmões secos de gritos, berros, orações e pedidos de socorro. Sou o monstro que vejo no espelho, o monstro que sempre quis esconder de mim e dos outros. Fartou-se do silêncio e num acto de sanidade louca queimou-me a pele humana, arrancou-me os cabelos, deixou-me despida de vida. As noites de sono acabaram, são longas, e os sonhos não deixam escapar uma gota de descanso. Os dias são curtos de mais para que não possa tropeçar numa esperança, num sorriso, numa vida. Desonro esse ser meu, deito-o no lixo, espezinho, aponto o dedo e viro-lhe as costas. Desprezo, esse monstro não tem dignidade. Não tem valor. É garantir a morte eterna, no inferno da espera pela última gota, o último suspiro, o último toque… e saber que nunca virá. Que na morte já se vive, inconsciente da forma como respiro, nem sei se ainda bate um coração, não há sangue para escorrer nas veias. É escuro este canto, já o disse. É frio, duro, desconfortável, barulhento e cuidadosamente silencioso para que tudo leve à loucura, é vazio, assustador, morto. É a auto mutilação de um espelho partido por uma imagem tão aterradoramente insuportável que nem um cego suportaria o seu reflexo. É podre, muito podre. Maligno, terminal. O mais vital dos venenos para quem deseja uma morte certa, lenta, corrosiva, sôfrega. Não para obter um perdão pelos pecados, não para ser mártir. Mas porque não existe forma de tão desumano, perverso, e pavoroso “ser” ter outro fim.

No comments: